quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Festa Anual das Árvores




Festa Anual das Árvores, em 25/09/2008
Foto: Aspan - São Borja/RS

Por Darci Bergmann


Muitos ainda se lembram do chamado Dia da Árvore. Pois de uns tempos para cá as árvores são reverenciadas por uma semana inteira, no que se chama Festa Anual das Árvores. É uma oportunidade para que o tema seja debatido. Nessas ocasiões ocorrem muitos discursos, frases de efeitos e outras exterioridades que nem sempre condizem com a realidade. Os ambientes urbanos em expansão diminuem os espaços verdes e nas zonas rurais lavouras e pastagens avançam sobre as matas e outras formações florísticas. Mas a sensibilização sobre a importância das árvores pode ocorrer nesses eventos. E com ganhos ambientais expressivos. A comunidade escolar tem um amplo motivo para trabalhar o tema em várias disciplinas. A sociedade como um todo pode fazer ações que revertem em melhorias. Sempre tem algum espaço físico que permite o plantio de algumas árvores, seja nas ruas, praças e terrenos particulares. Sempre existem áreas que precisam de preservação na forma de algum parque, alguma reserva biológica, porque ainda a melhor forma de conservar a natureza é evitar que ela seja destruída. E onde a degradação ambiental já fez estragos profundos é preciso botar a mão na massa visando recuperar o que for possível. De fato, só discursos não bastam.
No atual momento, a situação no Brasil é delicada quando o tema é árvore. Falo no conjunto delas. Falo nas florestas. Querem alterar para pior o Código Florestal.  Querem anistiar quem derrubou florestas ao arrepio da lei vigente. Querem fragmentar as florestas e demais formas de vegetação ao longo dos rios ou mesmo em áreas íngremes. O argumento surrado para enganar a opinião pública é de que o Código Florestal como está seria um entrave para a produção de alimentos. Ora essa! Árvore preservada também produz comida. E  assegura condições ambientais favoráveis para produzir mais e melhor. Ou será que os mananciais de água que as florestas e demais formas de vegetação natural protegem não tem valor? Água também é alimento e produz alimento.
 Portanto essa distorção deliberada e urdida nas mentes dos que só pensam em vantagens momentâneas não convence aqueles que pensam no futuro do Brasil e da humanidade. Não faltam terras para plantio. Ocorre que uma parte considerável das terras está degradada, por falta de conservação do solo. Degradar mais florestas só agrava o quadro atual e não traz nenhuma melhoria significativa nem social, nem econômica para a maioria da população brasileira. E uma parte considerável das terras de agricultura nem produz alimento. É o caso da lavoura de tabaco. Mais desmatamentos talvez concentre poder e capital nas mãos de uns poucos. Esses poucos, no entanto, conseguem eleger políticos que defendem seus interesses. Situação curiosa. A maioria da população quer a manutenção do atual texto do Código Florestal, como mostraram as pesquisas de opinião pública. A maioria dos deputados federais e senadores, no entanto, quer mudar para pior a lei que sempre foi burlada nos confins desse País. Estranha democracia é essa em que a maioria do povo pensa de um jeito e os seus representantes, os deputados e senadores agem e legislam de outra forma.
 Não seria esse também um tópico para reflexão na Festa Anual das Árvores?
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Veja, o decreto que instituiu a Festa Anual das Árvores.


Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos
Institui em todo território nacional, a Festa Anual das Árvores.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , usando das atribuições que lhe confere o Art. 87, item I da Constituição,
DECRETA:
Art 1º Fica instituída em todo o território nacional, a Festa Anual das Árvores, em substituição ao chamado "Dia da Árvore" atualmente comemorado no dia 21 de setembro.
Art 2º A Festa Anual das Árvores tem por objetivo difundir ensinamentos sôbre a conservação das florestas e estimular a prática de tais ensinamentos, bem como divulgar a importância das árvores no progresso da Pátria e no bem-estar dos cidadãos.
Art 3º A Festa Anual das Árvores, em razão das diferentes características fisiográfico- climáticas do Brasil, será comemorada durante a última semana do mês de março nos Estados do Acre, Amazonas, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia e Territórios Federais do Amapá, Roraima, Fernando de Noronha e Rondônia; e na semana com início no dia 21 de setembro, nos Estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro, Guanabara; Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Distrito Federal.
Art 4º As comemorações ficarão a cargo dos Ministérios da Agricultura e da Educação e Cultura.
Art 5º Os casos omissos serão resolvidos pelo Conselho Florestal Federal.
Art 6º Êste decreto entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.
Brasília, 24 de fevereiro de 1965; 144º da Independência e 77º da República.
H. CASTELO BRANCO
Hugo de Almeida Leme
Flávio Lacerda
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Participe!
Dia 23 do corrente, sexta feira, às 9Hs, ASPAN  promove evento denominado Arborização e qualidade de vida. Veja o convite a seguir:

                                               CONVITE

ASPAN - Associação São Borjense de Proteção ao Ambiente Natural tem a honra de convidar V.S. para o evento alusivo à Festa Anual das Árvores a ser realizado em 23 de setembro do ano corrente, no Centro Ambiental, na rua eng. Manoel Luís Fagundes, nº 1591 (anexo à Solobrás).
       9 H – Abertura - Jones Dalmagro Pinto, presidente da ASPAN
       9H 10 – Mensagem do presidente da ACISB (entidade apoiadora)
       9H 20 – Palestra: Arborização e qualidade de vida, pelo eng. agrônomo Darci Bergmann, coordenador do Projeto SEMEAR
      10H 10 – Visita ao viveiro e demonstrações práticas de arborização.
      10H30 – Encerramento.

Nota: Solicitamos que as instituições de ensino enviem representações de até 40 (quarenta) participantes.
Telefones para contato: 3431-1898 (Solobrás), 3431-2273 (Jones)
Local: Rua engº Manoel Luís Fagundes, 1591
                                      
                                        Atenciosamente.
Jones Dalmagro Pinto
Presidente

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Resíduos de podas viram composto orgânico


Nas cidades, a poda das árvores resulta em resíduos que provocam transtornos quando manejados de forma incorreta.

Por: Darci Bergmann
Principalmente nos meses de outono e inverno, as prefeituras e proprietários de imóveis podam árvores e os motivos são vários. Alguns exemplares conflitam com a rede elétrica, outros são retirados e substituídos e tudo isso gera transtorno no trânsito. Na ocorrência de vendavais, as coisas se complicam e o volume de galhos e folhas em via pública tem um alto custo de remoção. O grande volume de material e a falta de local adequado para depósito é sempre problemático.
Para facilitar o manejo desses resíduos, é preciso reduzir o volume. Para isso, já existem equipamentos adequados no mercado. Trituradores potentes reduzem enormes troncos e tocos em pequenos pedaços de madeira. As máquinas de grande porte ainda são caras e nem sempre as prefeituras e empresas podem adquiri-las. Mas já existem alternativas bem mais acessíveis e que processam ramos com até 10 cm de diâmetro. A redução de volume é notável e isto se traduz em custos menores de remoção do material.
Os resíduos triturados são excelente matéria prima para o composto orgânico. Amontoados em leiras e cobertos com filme plástico em poucas semanas se transformam num excelente composto orgânico. Para acelerar o processo de fermentação bacteriana, pode-se regar o material com uréia diluída em água. Depois, cobre-se novamente o material com o filme plástico. O composto resultante é isento de ervas competidoras.

Triturador de resíduos Trapp

Trapp, tradicional fabricante de equipamentos para jardinagem, lançou um triturador de resíduos que se encaixa no orçamento da maioria das prefeituras e de muitas empresas. É um triturador de porte médio, de fácil transporte e que tritura galhos de até 10 cm de diâmetro. A ampla rede de distribuidores facilita a reposição de peças do equipamento, caso necessário. 

Veja fotos abaixo:


domingo, 15 de maio de 2011

CLOMAZONE: PESQUISAS CONFIRMAM DENÚNCIAS DA ASPAN


Repercutiu no Brasil e no exterior a denúncia da mortandade de árvores na região da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul. Milhares de árvores e arbustos viraram esqueletos devido à ação das derivas de herbicidas. No ano dedicado à Biodiversidade é bom lembrar que a espécie humana também está sendo afetada.
Entre os grandes vilões, a ASPAN denunciou ao MPF o Clomazone, mais conhecido aqui pelo nome comercial Gamit, da multinacional FMC Química do Brasil Ltda. É certo que outros herbicidas também podem afetar o meio ambiente, especialmente com derivas devido ao uso da aviação agrícola. É o caso do glifosato que tem causado injúrias em culturas nas imediações de lavouras de soja transgênica e de áreas dessecadas para posterior plantio. Mas o clomazone não é seguro para nenhum tipo de equipamento e não há condição meteorológica favorável.  
O Clomazone é extremamente volátil, mas permanece no ambiente por mais tempo conforme as pesquisas já comprovaram. Ele contamina água, solo, ar e atinge plantas e animais.
SUSPEITAS SE CONFIRMAM – Os estudos das empresas registrantes de herbicidas à base de Clomazone, apresentados às autoridades, foram no mínimo incompletos. Pesquisas à campo em lavoura de arroz irrigado onde produtos comerciais foram aplicados via aérea, mostraram Clomazone na água dos condutos de irrigação até 115 dias após a aplicação.
Outras pesquisas mostram a ação de clomazone interferindo nos sistemas enzimáticos dos peixes, sendo algumas alterações irreversíveis. Isto ficou demonstrado quando os peixes que estavam em água contaminada por clomazone foram depois colocados em água isenta do produto. Algumas alterações metabólicas não voltaram ao estado normal.
No Estado do RS, o produto é usado nas lavouras de arroz irrigado e no cultivo do fumo. Agora com a possibilidade de plantio de mais de 800 mil hectares de cana-de-açúcar, o seu uso e os conseqüentes malefícios à saúde e ao meio ambiente poderão aumentar.
USO ILEGAL DO CLOMAZONE – As doses recomendadas pelos órgãos oficiais estão sendo adulteradas para mais. Portanto a situação é muito mais grave ainda. Uma dos artifícios dessa fraude é o sistema de tratar a semente de arroz com produtos que conferem à cultura maior tolerância ao clomazone. Até painéis com essa prática ilegal foram colocados em pontos estratégicos em São Borja e depois retirados quando a ASPAN denunciou o fato. Ficaram as fotos e a certeza de que na prática o uso abusivo continua.
Veja o artigo a seguir: 

 POLUIÇÃO DAS ÁGUAS POR HERBICIDAS UTILIZADOS NO CULTIVO DO ARROZ IRRIGADO NA REGIÃO CENTRAL DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL: PREDIÇÃO TEÓRICA E MONITORAMENTO

Aproximadamente um terço de todos os compostos orgânicos produzidos têm como destino o meio ambiente, incluindo a água. Cerca de 700 compostos químicos, incluindo mais de 600 compostos orgânicos, muitos dos quais biologicamente ativos, têm sido detectados em amostras de água2.
O Brasil, desde a década de 70, destaca-se como um dos maiores consumidores mundiais de pesticidas8. Porém, o único dado que nos dá uma indicação da escala em que são aplicados no Brasil são os valores de pesticidas em linha de comercialização, a partir dos quais destaca-se a grande utilização de herbicidas9. As culturas responsáveis por este elevado consumo são principalmente soja, cana-de-açúcar, milho e arroz10. O estado do Rio Grande do Sul (RS) é responsável pela utilização de cerca de 20% dos pesticidas consumidos no país.
No Brasil são cultivados anualmente 1,3 milhões de hectares com arroz irrigado, dos quais cerca de 950 mil (73%) estão no RS11. A orizicultura gaúcha contribui com cerca de 50% da produção nacional de arroz12. Apesar da grande contribuição do estado do RS na produção de arroz, muito pouco se fez até o momento em relação a estudos de comportamento e destino dos herbicidas no sistema, visando a manutenção da eficiência com menor risco de dano ambiental5.
Parte Experimental
Área do estudo
O estudo foi realizado a campo em área de várzea do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em Santa Maria (RS); e na Bacia Hidrográfica dos Rios Vacacaí e Vacacaí-Mirim durante o período de cultivo do arroz irrigado nas safras agrícolas de 2000/01, 2001/02 e 2002/03.

 RESULTADO E DISCUSSÃO
Águas de superfície
De acordo com os critérios de Goss usados para avaliar se um pesticida ao ser usado na agricultura pode atingir águas de superfície, pode-se dividi-los entre aqueles que podem ser transportados dissolvidos em água e aqueles que são transportados associados ao sedimento em suspensão. Assim, dos herbicidas em estudo o clomazone e o propanil indicam um alto potencial de poluição de águas de superfície (APTDA) porque podem ser transportados dissolvidos em água.

 Águas subterrâneas
Segundo Dores et al.,15 compostos classificados na faixa de transição e de provável lixiviação de acordo com o índice de GUS requerem investigação adicional, usando-se procedimentos mais detalhados. Compostos classificados como improváveis de sofrerem lixiviação podem, seguramente, ser considerados como não poluentes de águas subterrâneas.
Considerando esta afirmação e os critérios da EPA, pode-se dizer que para os herbicidas bentazone, 2,4-D, clomazone e propanil seriam recomendados estudos complementares sobre a possibilidade de poluição de águas subterrâneas na região. Com relação ao quinclorac, por falta de dados sobre diversas de suas propriedades, nada se pode afirmar sobre seu potencial de poluição. Utilizando-se o índice de GUS, bentazone e clomazone podem ser considerados contaminantes em potencial, propanil como não contaminante, 2,4-D de transição e quinclorac inconclusivo.

CONCLUSÃO
Esse trabalho demonstra que a quantidade de herbicidas usados nas lavouras de arroz irrigado influenciam diretamente os níveis de herbicidas que ocorrem nas águas de superfície das proximidades. Para reduzir a quantidade de herbicidas que atingem as águas de superfície são necessários programas de gerenciamento e conscientização para minimizar a quantidade aplicada.
Herbicidas usados na cultura do arroz irrigado têm um efeito prejudicial potencial para a vida aquática, pois a drenagem da água da lavoura de arroz irrigado coincide com a época de reprodução dos peixes. Então, todo sistema de cultivo de arroz que libera água para o meio ambiente precisa ser monitorado com relação à concentração de herbicidas, e planos de gerenciamento, de manejo da cultura e de desempenho para proteger a vida aquática precisam ser implementados.
            Considerando a grande importância de se conhecer o nível de herbicidas nas águas, mais estudos são necessários para determinar exatamente os processos de dispersão de herbicidas aplicados na lavoura, tais como volatilização, degradação por microrganismos e luz solar, e adsorção no solo, pois os herbicidas podem ser prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente, demonstrando esses efeitos mesmo em pequenas concentrações.

Ednei Gilberto Primel*, I; Renato ZanellaII; Márcia Helena Scherer KurzII; Fábio Ferreira GonçalvesII; Sérgio de Oliveira MachadoIII; Enio MarchezanIII
IDepartamento de Química, Fundação Universidade Federal do Rio Grande, 96201-900
Rio Grande - RS
IIDepartamento de Química, Universidade Federal de Santa Maria, 97105-900 Santa Maria - RS
IIIDepartamento de Fitotecnia, Universidade Federal de Santa Maria, 97105-900 Santa Maria - RS

 Fonte:
 Poluição das águas por herbicidas utilizados no cultivo do arroz irrigado na região central do estado do Rio Grande do Sul, Brasil: predição teórica e monitoramento
Química Nova
Print version ISSN 0100-4042
Quím. Nova vol.28 no.4 São Paulo July/Aug. 2005
doi: 10.1590/S0100-40422005000400010
Extraído da Internet em 20/08/2009, às 20:55 , by SCIELO

O PESADELO NUCLEAR

Por Darci Bergmann
     
            Algumas décadas atrás houve um movimento contra o uso da energia nuclear para a geração de eletricidade. Os acidentes radioativos contribuíram para essa tomada de posição. E havia o questionamento sobre o destino do lixo atômico, problema até hoje não resolvido, apesar da possibilidade de reprocessamento desse material. Também se argumentava que a energia poderia ser gerada a partir de outras fontes, como a eólica, hidrelétrica, fotovoltaica, biomassa, entre outras. Os defensores da energia nuclear afirmavam que os acidentes eram casos isolados. Quanto aos resíduos, não ofereceriam riscos maiores, pois acondicionados em barricas de chumbo ficariam contidos por milhares de anos.
            O tempo passou e alguns sistemas de produção de energia dita mais limpa foram implantados em escala maior. No entanto, a geração de energias limpas não tem a unanimidade dos que se arvoram como ambientalistas. Sobre a energia eólica, dizem alguns que ela provoca tremendo impacto sobre a paisagem, interfere na rota migratória de aves, causa poluição sonora, entre outros problemas citados. Além disso, os ventos são irregulares, o que poderá diminuir o fornecimento por essa fonte em algumas épocas do ano. Quanto à biomassa, ela tem dois aspectos: um se refere ao aproveitamento de resíduos e o outro referente ao plantio de espécies vegetais em grande escala para a produção de biocombustíveis. Ambientalistas de renome entendem que os biocombustíveis são concorrentes diretos da produção de alimentos. Estaria aí um dilema. Um planeta cada vez mais povoado precisa de mais alimentos e de mais energia para atender aos seus padrões de consumo. Disponibilizar terras, máquinas, insumos e energia para a produção de combustíveis faz parte do agronegócio, mas não teria sustentabilidade ambiental, nem social.
 Hoje parte dos combustíveis é desperdiçada nas cidades, sob várias formas, com requintes de descaso ao Planeta e às pessoas. Basta ver o que ocorre nos chamados rachas, madrugadas afora. Se assim é no comportamento, não é diferente nos planejamentos urbanos, onde as cidades crescem apenas pensadas para o automóvel e a construção civil moldada para obras consumidoras de energia. Arborização de ruas e outros espaços, para atenuar o calor, tem de ser motivo de pleitos insistentes dos quase sempre criticados ambientalistas.
           
            A controvérsia tem o seu lado positivo. Talvez não exista uma fonte única e ideal de energia, mas um conjunto de alternativas. Particularmente, acredito muito na alternativa da energia solar sob as várias formas de aproveitamento. Mas as peculiaridades regionais devem levar em conta qualquer fonte disponível e de menor impacto ambiental.  
            Voltando à energia nuclear, fiquei encafifado com as digressões de James Lovelock, no livro Gaia - Alerta Final. Ele defende o uso da energia nuclear e critica a postura dos ambientalistas. O Sr. James Lovelock assevera que os cientistas americanos, em sua maioria, não perceberam o problema do aquecimento global. Agora, diante do dilema, a humanidade precisaria de líderes para fazer um movimento consistente com vistas a, pelo menos, diminuir os impactos do aquecimento global e que a energia nuclear seria uma das alternativas até menos danosas.
            O pensamento do Sr. James Lovelock deve ser colocado num contexto de sobrevivência de alguns países, como o Reino Unido. Mas o uso da energia nuclear tem outras implicações que não as de simples construção de usinas e o descarte seguro dos resíduos. Num mundo cada vez mais tumultuado, com ideologias que beiram ao fanatismo mais insano, a humanidade poderá ficar sob a ameaça dos atentados às usinas atômicas. Assim, cada uma dessas usinas se transforma numa bomba atômica em potencial. Os problemas da humanidade não serão resolvidos somente pela ciência ou pelos cientistas. O conhecimento tanto pode ser usado para o bem como para o mal. A ciência é neutra e até isso é reconhecido em parte pelo Sr. Lovelock. É preciso uma ampla mobilização das pessoas, numa corrente que atinja o Planeta por inteiro, visando um novo modo de pensar e de agir. Os atuais padrões de consumo já causaram grandes estragos e levarão a uma derrocada ambiental sem precedentes. No atual momento, centenas de milhões de pessoas estão conectadas na internet, essa ferramenta espetacular que diminuiu as distâncias entre nós. Que se faça um bom uso dela. Podemos esbanjar menos, com atitudes simples e que não nos tiram o prazer de viver bem. Até para nos livrarmos do pesadelo nuclear. 
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Matérias relacionadas:


ENERGIA NUCLEAR – ALFREDO AVELINE – 1979 (C. Povo)

Físico da URGS diz que energia nuclear agravará crise energética
O físico Alfredo Aveline, professor do Instituo de física da URGS, fez na noite de ontem palestra no Instituto dos Arquitetos do Brasil abordando o tema Energia Elétrica no Brasil, quando criticou a atual política desenvolvimentista do Brasil e condenou o acordo nuclear.
Conforme Alfredo Aveline, “a energia elétrica no Brasil apresenta índices de crescimento de demanda errados e sobre eles é que foi feito o acordo nuclear”.
Para o físico segundo as estimativas oficiais, “o crescimento de consumo de energia elétrica está em torno de 10% ao ano, o que implica que a cada sete anos seja duplicado o consumo”. Desta forma Aveline demonstra que, tendo presente a demanda do ano em curso em torno de 25 mil megawatts instalados, em 1986 (daqui a sete anos) precisaremos de 50 mil megawatts; em 1993, 100 mil megawatts e no ano de 2000, 200 mil megawatts.
Segundo o professor, estas taxas não são sustentáveis mas foram as que justificaram o acordo nuclear – Aveline lembrou ainda que em apenas um ano, se fizermos uma projeção precisaremos do ano 2000 a 2001 o equivalente a implantação de 16 centrais nucleares em apenas um ano.
De 2000 a 2007, continuou o professor, necessitaremos instalar 200 mil megawatts, o que corresponde a 17 usinas iguais a Itaipu ou 160 centrais nucleares. Aveline destacou ainda que se o raciocínio for levado até o ano de 2014, precisaremos 400 mil megawatts, ou seja construir mais 34 Itaipus ou 320 usinas nucleares.
POTÊNCIAL HIDRELÉTRICO
Em sua palestra Alfredo Aveline disse ainda que, segundo dados da Eletrobrás, de 1978. O potencial hidrelétrico nacional de grandes quedas d’água é em torno de 200 mil megawatts que corresponde a 2,5 vezes a potência elétrica atualmente instalada na Alemanha, e a oito vezes o potencial hidrelétrico brasileiro explorado até o momento.Estes 200 mil megawatts, para Aveline, deveriam ser destinados aos grandes centros urbanos e regiões industriais e utilizar-se as pequenas quedas d’água (com potencial entre 20 me 100 MW) que podem alimentar pequenas cidades e comunidades rurais e que atualmente não são utilizados.



FONTES ALTERNATIVAS
Além das pequenas quedas d’água, que somam 300 mil megawatts e que não são utilizadas, Alfredo Aveline enfatizou que pode ser usada com tecnologia nacional a energia eólica (energia dos ventos) principalmente em irrigações, o álcool, através de mini-destilarias e o metano, pois todas estas alternativas, alguns anos atrás eram românticas, mas tornaram-se economicamente viáveis.
Aveline disse ainda que possuímos também grande variedade de óleos vegetais, como o óleo de dendê, óleo de babaçu e ouros que podem substituir o diesel sem sequer necessidade de ajustes nos motores e que não ocorre porque outros interesses industriais não permitem.
Já quanto a utilização do carvão, Alfredo Aveline foi mais discreto, dizendo que o mesmo deve ser utilizado para a gaseificação e que deve evitar-se o transporte do carvão, instalando-se usinas junto às minas, pois nosso carvão é muito pobre, e deixa muita cinza que pode que pode ser utilizada para entulhar as minas. Mesmo assim, enfatizou Aveline, “o carvão deve ser utilizado o mínimo possível”.
PROPOSTA
Após considerar que as projeções oficiais “levam absurdos”, Alfredo Aveline disse que o Brasil precisa definir seu patamar de crescimento, da industrialização e da população, para após isto, se trabalhar coerentemente.
Alfredo Aveline apresentou como proposta que este patamar seja limitado pelas fontes naturais de energia, aproveitando-se as grandes e pequenas quedas d’água e que se criem outras fontes alternativas derivadas principalmente das várias formas de manifestação da energia solar.
CRÍTICAS
Afirmando que as usinas nucleares apresentam uma série de aspectos negativos, que vão desde altos custos até o risco de vida, Alfredo Aveline disse que em primeiro lugar o Brasil não precisa de energia nuclear, no momento, e que não precisará por muitos anos, devido ao imenso potencial hidrelétrico ainda não explorado. A energia nuclear, segundo o físico virá a agravar a nossa crise energética, pois a construção de uma usina nuclear exige uma capitalização de 3 à 4 vezes maior do que para as usinas elétricas, resultando daí que, para cada uma usina atômica, deixaremos de construir 4 hidrelétricas, deixando de explorar o nosso grande potencial de águas.
Além disto, continuou Aveline, os investimentos em usinas nucleares são feitos na maior parte em moeda estrangeira, agravando ainda mais nossa dívida externa.
PERIGOS
O professor destacou também que os investimentos em pessoal são muito mais caros nas usinas nucleares que nas hidrelétricas e acrescentou que no custo da Usina Nuclear não está incluído o cuidado com o lixo atômico, que precisa ser guardado durante 500 mil anos.
Os custos de desativação também foram esquecidos, disse o professor, bem como onde colocar o lixo atômico. Aveline esclareceu que países europeus e os Estados Unidos reconhecem os perigos principalmente à vida, que as usinas atômicas representam, mas que seus defensores dizem que não tem outra alternativa a não ser o óleo diesel – “o que não acontece conosco” – destacou Aveline, pois exploramos apenas 12 por cento de nosso potencial de queda d’água.
            FREIO ECONÔMICO
Concluindo, Alfredo declarou que os objetivos de crescimento a qualquer custo e por período indefinido têm que ser revisto e que o procedimento do governo, adotado em 1973, “quando manipulou os dados escondendo a crise energética que vivíamos”, não pode ser repetido.
O objetivo ideal para o físico seria o desenvolvimento do país em lugar do crescimento econômico a qualquer custo. Para isto pode ser usada a estratégia da descentralização pelo sol, nas suas diferentes formas de apresentação e o melhor uso da energia pelo processo de co-geração e aproveitamento de energia solar radiante para ampliações térmicas e elétricas, concluiu Alfredo Aveline.
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28 de Abril de 2011 Juliana Radler

Rio de Janeiro- No dia em que o mundo relembrou os 25 anos do acidente nuclear de Chernobyl (26 de abril), especialistas em energia nuclear, políticos e ambientalistas debateram e questionaram os rumos da política energética brasileira, que prevê a construção de quatro usinas nucleares até 2030, além de Angra 3, cujas obras estão em andamento. No total, estima-se que os investimentos no segmento cheguem a R$ 50 bilhões.

No evento “De Chernobyl a Fukushima, a energia nuclear não tem futuro”, realizado na UFRJ, a ex-candidata à presidência da República, Marina Silva, afirmou que o Brasil, diferente de países que admitiram rever seus planos nucleares, como Alemanha, Suíça e Polônia, silenciou-se e minimizou os impactos da catástrofe japonesa.

“O único país que não teve uma atitude de humildade diante do que ocorreu no Japão foi o Brasil. O governo silenciou-se e teve uma atitude arrogante a ponto de algumas autoridades dizerem que houve um incidente no Japão e não um acidente. E por que essa postura? Porque temos alguns dogmas que não podem ser questionados aqui em relação à energia nuclear”, ressaltou Marina, acrescentando que “existe falta de transparência, não há acesso as informações e não temos conhecimento dos riscos que estamos correndo”.

Contaminação na Bahia?


Essa aura de sigilo que envolve o setor nuclear brasileiro foi apontada também pela relatora de direitos humanos e ambientais (Dhesca Brasil), a socióloga Marijane Lisboa. Ela acaba de retornar de uma missão à mina de urânio de Caetité, na Bahia, onde há denúncias de contaminação radioativa da água em poços localizados a 20 km da área da mineração. Nessa mina, em funcionamento há 10 anos, é extraído o urânio utilizado pelas usinas de Angra 1 e 2, no Rio de Janeiro.

“Descobrimos que poços de água usados pela população local estavam contaminados por radiação. E quando não há contaminação, há escassez devido ao uso intensivo de água para as atividades da mina, que inviabiliza a atividade agrícola, principal fonte de renda da população local”, revela Marijane, autora do relatório sobre Caetité, que será concluído no fim de maio e entregue às autoridades públicas. Segundo ela, a situação na Bahia é “calamitosa” em relação ao acesso à informação. “A população ouve boatos, escuta explosões, mas nunca tem acesso a informação, pois as autoridades sempre afirmam que nada ocorreu”. (O relatório sobre Caetité poderá ser acessado publicamente pelo site
 www.dhescbrasil.org.br)

Na região não há hospitais e nenhuma unidade especializada em oncologia. Existem relatos médicos de aumento de casos de câncer em jovens, principalmente de estômago e intestino, mas como nunca houve a preocupação com tais pesquisas, há dificuldade em comparar e comprovar historicamente os efeitos nocivos da atividade da mina de urânio na região. As pessoas que adoecem são tratadas fora e muitas vezes falecem sem comprovação da causa.
 

Essa falta de transparência que vem desde a extração do combustível nuclear, o urânio, origina-se no governo militar e permanece até os dias de hoje, como apontam os especialistas. Assim como em países não democráticos, como o Irã e o Paquistão, o mesmo órgão que opera e fomenta a energia nuclear é o responsável pela fiscalização das atividades do setor. Isto é, a Comissão Nacional de Energia Nuclear, subordinada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, acumula funções de fiscalização e operação e é proprietária de 99,7% das Indústrias Nucleares do Brasil. Esse fato demonstra que o Estado brasileiro descumpre a Convenção Internacional de Segurança Nuclear, do qual é signatário, que exige a total separação entre as funções de regulação e operação das atividades nucleares.

“Essa incompatibilidade de atribuições já soma 35 anos. A primeira crítica a esse fato se deu na Sociedade Brasileira de Física em 1977 que já pedia um órgão fiscalizador independente, mas até hoje a situação permanece a mesma”, recorda Rogério Gomes, presidente da Associação dos Fiscais de Radioproteção e Segurança Nuclear.
 

Plebiscito


Para aumentar a transparência e definir democraticamente os rumos da energia nuclear no Brasil, Marina Silva defende a realização de um plebiscito sobre o tema. “Sou favorável ao plebiscito porque acredito que ele promoverá o debate entre as diferentes posições. Assim a população brasileira poderá democraticamente decidir se quer ou não que os seus tributos sejam investidos em uma fonte de energia que é cara e insegura, ao invés de serem utilizados para outras prioridades, como as energias solar, eólica, biomassa e biocombustíveis. Vamos acreditar na nossa democracia e na maturidade do nosso povo”, conclui Marina. 

Contraditoriamente, o Brasil, país com maior potencial mundial para geração de energia a partir de fontes renováveis, insiste em investir na geração nuclear, que vem sendo repensada mesmo por países mais dependentes dessa fonte, como a Alemanha. Após Fukushima, a primeira ministra alemã, Angela Merkel, que defendia a ampliação da utilização da energia nuclear, determinou o fechamento das sete usinas nucleares mais antigas e a moratória à lei de prolongamento da vida útil das usinas atuais. Ela declarou que a catástrofe do Japão tem “medidas apocalípticas” e cujas conseqüências são imprevisíveis.
 

“No Brasil nós temos recursos energéticos provenientes das energias de fluxo (do sol, da água e do vento) capaz de garantir o dobro do consumo per capita de energia do país. Hoje consumimos em média 2.500 kw/hora por ano per capita no país. Na Itália e na Espanha, por exemplo esse número chega a 5.000 kw/h. Se nós apropriássemos grande parte do potencial hidráulico e eólico, chegaríamos a algo como 8.000 kw/h per capita no Brasil”, informa Ildo Sauer, professor do Instituto de Eletrotécnica da USP e ex-diretor executivo da Petrobras.
 

Sauer, que é mestre em energia nuclear, defende inclusive a paralisação das obras de Angra 3, enfatizando que o montante ainda a ser investido na construção, equivale ao dobro do necessário caso os recursos fossem destinados a geração de energia a partir de outras fontes renováveis. “Sem falar que outras fontes não exigem o risco de operar um reator nuclear e não deixam a herança de mil toneladas de elementos combustíveis irradiados ao longo de sua vida, que é o previsto para Angra 3”, critica, acrescentando que em lugar nenhum do mundo o problema dos rejeitos radioativos foi solucionado.“A escolha brasileira pela energia nuclear não se explica por política energética, por política científica ou tecnológica. Talvez a única explicação possa ser dada pelo lobinho, pelo lobby e pelo lobão”, ironizou.

Nos próximos anos, mais reatores serão desativados do que construídos em todo o mundo, segundo Dawid Bertelt, diretor da Fundação Heinrich Boll (do Partido Verde alemão) no Brasil, que defende o fim do programa nuclear brasileiro. “Energia nuclear é a forma de energia mais política existente e a que interessa mais ao complexo industrial militar. Hoje é cada vez mais cara a construção de usinas nucleares e é praticamente impossível construir uma usina sem subsídios públicos. Mas, é totalmente possível substituir a energia nuclear por fontes mais seguras e baratas, sobretudo no Brasil”, afirmou Dawid.


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