Repercutiu no Brasil e no exterior a denúncia da mortandade de árvores na região da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul. Milhares de árvores e arbustos viraram esqueletos devido à ação das derivas de herbicidas. No ano dedicado à Biodiversidade é bom lembrar que a espécie humana também está sendo afetada.
Entre os grandes vilões, a ASPAN denunciou ao MPF o Clomazone, mais conhecido aqui pelo nome comercial Gamit, da multinacional FMC Química do Brasil Ltda. É certo que outros herbicidas também podem afetar o meio ambiente, especialmente com derivas devido ao uso da aviação agrícola. É o caso do glifosato que tem causado injúrias em culturas nas imediações de lavouras de soja transgênica e de áreas dessecadas para posterior plantio. Mas o clomazone não é seguro para nenhum tipo de equipamento e não há condição meteorológica favorável.
O Clomazone é extremamente volátil, mas permanece no ambiente por mais tempo conforme as pesquisas já comprovaram. Ele contamina água, solo, ar e atinge plantas e animais.
SUSPEITAS SE CONFIRMAM – Os estudos das empresas registrantes de herbicidas à base de Clomazone, apresentados às autoridades, foram no mínimo incompletos. Pesquisas à campo em lavoura de arroz irrigado onde produtos comerciais foram aplicados via aérea, mostraram Clomazone na água dos condutos de irrigação até 115 dias após a aplicação.
Outras pesquisas mostram a ação de clomazone interferindo nos sistemas enzimáticos dos peixes, sendo algumas alterações irreversíveis. Isto ficou demonstrado quando os peixes que estavam em água contaminada por clomazone foram depois colocados em água isenta do produto. Algumas alterações metabólicas não voltaram ao estado normal.
No Estado do RS, o produto é usado nas lavouras de arroz irrigado e no cultivo do fumo. Agora com a possibilidade de plantio de mais de 800 mil hectares de cana-de-açúcar, o seu uso e os conseqüentes malefícios à saúde e ao meio ambiente poderão aumentar.
USO ILEGAL DO CLOMAZONE – As doses recomendadas pelos órgãos oficiais estão sendo adulteradas para mais. Portanto a situação é muito mais grave ainda. Uma dos artifícios dessa fraude é o sistema de tratar a semente de arroz com produtos que conferem à cultura maior tolerância ao clomazone. Até painéis com essa prática ilegal foram colocados em pontos estratégicos em São Borja e depois retirados quando a ASPAN denunciou o fato. Ficaram as fotos e a certeza de que na prática o uso abusivo continua.
Veja o artigo a seguir:
POLUIÇÃO DAS ÁGUAS POR HERBICIDAS UTILIZADOS NO CULTIVO DO ARROZ IRRIGADO NA REGIÃO CENTRAL DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL: PREDIÇÃO TEÓRICA E MONITORAMENTO
Aproximadamente um terço de todos os compostos orgânicos produzidos têm como destino o meio ambiente, incluindo a água. Cerca de 700 compostos químicos, incluindo mais de 600 compostos orgânicos, muitos dos quais biologicamente ativos, têm sido detectados em amostras de água2.
O Brasil, desde a década de 70, destaca-se como um dos maiores consumidores mundiais de pesticidas8. Porém, o único dado que nos dá uma indicação da escala em que são aplicados no Brasil são os valores de pesticidas em linha de comercialização, a partir dos quais destaca-se a grande utilização de herbicidas9. As culturas responsáveis por este elevado consumo são principalmente soja, cana-de-açúcar, milho e arroz10. O estado do Rio Grande do Sul (RS) é responsável pela utilização de cerca de 20% dos pesticidas consumidos no país.
No Brasil são cultivados anualmente 1,3 milhões de hectares com arroz irrigado, dos quais cerca de 950 mil (73%) estão no RS11. A orizicultura gaúcha contribui com cerca de 50% da produção nacional de arroz12. Apesar da grande contribuição do estado do RS na produção de arroz, muito pouco se fez até o momento em relação a estudos de comportamento e destino dos herbicidas no sistema, visando a manutenção da eficiência com menor risco de dano ambiental5.
Parte Experimental
Área do estudo
O estudo foi realizado a campo em área de várzea do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em Santa Maria (RS); e na Bacia Hidrográfica dos Rios Vacacaí e Vacacaí-Mirim durante o período de cultivo do arroz irrigado nas safras agrícolas de 2000/01, 2001/02 e 2002/03.
RESULTADO E DISCUSSÃO
Águas de superfície
De acordo com os critérios de Goss usados para avaliar se um pesticida ao ser usado na agricultura pode atingir águas de superfície, pode-se dividi-los entre aqueles que podem ser transportados dissolvidos em água e aqueles que são transportados associados ao sedimento em suspensão. Assim, dos herbicidas em estudo o clomazone e o propanil indicam um alto potencial de poluição de águas de superfície (APTDA) porque podem ser transportados dissolvidos em água.
Águas subterrâneas
Segundo Dores et al.,15 compostos classificados na faixa de transição e de provável lixiviação de acordo com o índice de GUS requerem investigação adicional, usando-se procedimentos mais detalhados. Compostos classificados como improváveis de sofrerem lixiviação podem, seguramente, ser considerados como não poluentes de águas subterrâneas.
Considerando esta afirmação e os critérios da EPA, pode-se dizer que para os herbicidas bentazone, 2,4-D, clomazone e propanil seriam recomendados estudos complementares sobre a possibilidade de poluição de águas subterrâneas na região. Com relação ao quinclorac, por falta de dados sobre diversas de suas propriedades, nada se pode afirmar sobre seu potencial de poluição. Utilizando-se o índice de GUS, bentazone e clomazone podem ser considerados contaminantes em potencial, propanil como não contaminante, 2,4-D de transição e quinclorac inconclusivo.
CONCLUSÃO
Esse trabalho demonstra que a quantidade de herbicidas usados nas lavouras de arroz irrigado influenciam diretamente os níveis de herbicidas que ocorrem nas águas de superfície das proximidades. Para reduzir a quantidade de herbicidas que atingem as águas de superfície são necessários programas de gerenciamento e conscientização para minimizar a quantidade aplicada.
Herbicidas usados na cultura do arroz irrigado têm um efeito prejudicial potencial para a vida aquática, pois a drenagem da água da lavoura de arroz irrigado coincide com a época de reprodução dos peixes. Então, todo sistema de cultivo de arroz que libera água para o meio ambiente precisa ser monitorado com relação à concentração de herbicidas, e planos de gerenciamento, de manejo da cultura e de desempenho para proteger a vida aquática precisam ser implementados.
Considerando a grande importância de se conhecer o nível de herbicidas nas águas, mais estudos são necessários para determinar exatamente os processos de dispersão de herbicidas aplicados na lavoura, tais como volatilização, degradação por microrganismos e luz solar, e adsorção no solo, pois os herbicidas podem ser prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente, demonstrando esses efeitos mesmo em pequenas concentrações.
Ednei Gilberto Primel*, I; Renato ZanellaII; Márcia Helena Scherer KurzII; Fábio Ferreira GonçalvesII; Sérgio de Oliveira MachadoIII; Enio MarchezanIII
IDepartamento de Química, Fundação Universidade Federal do Rio Grande, 96201-900
Rio Grande - RS
IIDepartamento de Química, Universidade Federal de Santa Maria, 97105-900 Santa Maria - RS
IIIDepartamento de Fitotecnia, Universidade Federal de Santa Maria, 97105-900 Santa Maria - RS
Fonte:
Poluição das águas por herbicidas utilizados no cultivo do arroz irrigado na região central do estado do Rio Grande do Sul, Brasil: predição teórica e monitoramento
Química Nova
Print version ISSN 0100-4042
Quím. Nova vol.28 no.4 São Paulo July/Aug. 2005
doi: 10.1590/S0100-40422005000400010
Extraído da Internet em 20/08/2009, às 20:55 , by SCIELO